sexta-feira, 15 de outubro de 2010

- Poesia da Inconfidência

Em meados do século XVIII, escritores mineiros vivem a transição entre o barroco e o arcadismo, influenciados pelo espírito neoclássico e pelas idéias iluministas, centradas na razão, na fidelidade ao real e no princípio do progresso.
Com Cláudio Manoel da Costa, iniciam-se as atividades literárias em Vila Rica, que culminarão numa 'escola mineira', da qual fazem parte os poetas Tomás Antônio Gonzaga e Inácio José de Alvarenga Peixoto.

- Cláudio Manuel da Costa
É o mais barroco dos autores árcades mineiros. Contemporâneo da Arcádia Lusitana, fundada em 1756, o escritor procura equilibrar sua forte vocação barroca à tendência neoclassicista. Por outro lado, introduz elementos locais em sua poesia, buscando adaptar a descrição da paisagem natal ao modelo retórico árcade. Ao narrar a história da Capitania de Minas no poema Vila Rica, expressa forte sentimento nacionalista, valorizando esteticamente as riquezas naturais de sua terra.

Nasceu no Ribeirão do Carmo (atual Mariana) em 1729. Iniciou seus estudos em Vila Rica, indo posteriormente para o Colégio dos Jesuítas, no Rio de Janeiro. Em 1753, formou-se em direito canônico pela Universidade de Coimbra, em Portugal. Seus primeiros trabalhos literários datam dessa época. Retornou a Vila Rica, onde se dedicou à advocacia e esteve ligado à administração da Capitania de Minas.

Era amigo dos poetas José Inácio de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga. Faleceu em Vila Rica em 1789, preso por participar da Inconfidência Mineira.

- Dois exemplos de poemas de Cláudio Manoel da Costa:





- Tomáz Antônio Gonzaga:

Gonzaga é considerado a expressão máxima do arcadismo brasileiro. Em Marília de Dirceu deixa entrever sua personalidade lírica ao cantar a amada, Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, sob o nome pastoral de Marília. Apesar da formalidade do modelo retórico árcade, sua poesia estabelece estreita relação entre a vida e a obra do autor. 
Nas Cartas Chilenas - conjunto de poemas que circulam anonimamente em Vila Rica, entre 1787 e 1788 -, seus versos assumem um tom satírico. Aponta as irregularidades do governo de Luís da Cunha Menezes, configurando o ambiente de Vila Rica ao tempo da preparação política da Inconfidência Mineira.
Nasceu no Porto, em 1744, mas viveu parte de sua infância na Bahia. Formou-se em leis na Universidade de Coimbra, em Portugal. De volta ao Brasil, foi juiz de fora em Beja e depois ouvidor de Vila Rica, para onde se transferiu em 1782. Apaixonou-se por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, musa inspiradora de quase toda sua obra lírica. Aguardava apenas licença para se casar, quando foi denunciado e preso por participar da Inconfidência Mineira. Degredado em Moçambique, conseguiu refazer sua vida. 
Trabalhou como procurador da Coroa e da Fazenda e juiz da Alfândega, casando-se com Juliana de Sousa Mascarenhas. Faleceu em 1810.



- Exemplo de poema de Tomáz Antônio Gonzaga:



MARÍLIA DE DIRCEU 
Lira I, parte 1 ( fragmento )
 

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
 
Que viva de guardar alheio gado,
 
De tosco trato, de expressões grosseiro,
 
Dos frios gelos e dos sóis queimado.
 
Tenho próprio casal e nele assisto;
 
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
 
E mais as finas lãs, de que visto.
 

Graças, Marília bela,
 
Graças à minha Estrela!
 

Eu vi o meu semblante numa fonte,
 
Dos anos inda não está cortado;
 
Os Pastores, que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado.
 
Com tal destreza toco a sanfoninha,
 
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
 
Ao som dela concerto a voz celeste
 
Nem canto letra que não seja minha.
 

Graças, Marília bela,
 
Graças à minha Estrela! ...









- Alvarenga Peixoto: 

Alvarenga Peixoto produziu pequena obra, ambientada na realidade mineira e caracterizada pelo sentimento nativista. Em seus poemas laudatórios (de louvação) é possível perceber uma postura crítica em relação à sociedade. Entre os autores árcades, foi o mais envolvido na Inconfidência Mineira. 

Nasceu no Rio de Janeiro em 1744 ou 1748. Estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro e depois na Universidade de Coimbra, em Portugal, onde conviveu com Basílio da Gama, que se tornaria um grande amigo.

Em 1776 tomou posse no Senado de São João del-Rei, cidade próspera e evoluída, com vida cultural bastante rica. Ali, exerceu as funções de ouvidor da Comarca do Rio das Mortes. Dedicou-se à agricultura e à mineração, aplicando em suas lavras as mais recentes técnicas de exploração. Seu caráter entusiasta e generoso, mas ambicioso e perdulário, conquistou amigos, inimigos e, sobretudo, muitas dívidas.
Alvarenga Peixoto viveu as contradições de seu tempo, comuns aos demais intelectuais da época. Amigo dos governadores e dos poderosos, partilhava ao mesmo tempo das idéias libertárias difundidas pelo Iluminismo. Pressionado pelas dívidas e pelos pesados impostos, acabou envolvendo-se na Inconfidência Mineira, tendo nela papel destacado.
Uma outra vertente da poesia de Alvarenga Peixoto é a de temática amorosa. A imagem de mulher ideal construída sob os moldes do Iluminismo aliava a inteligência e a sensibilidade à beleza. Em São João del-Rei, Alvarenga Peixoto encontra em Bárbara Eliodora os atributos correspondentes a esse perfil e se apaixona pela jovem de 18 anos, que passa a ter grande ascendência sobre o poeta. De seus amores nada convencionais nasceu uma filha, Maria Efigênia. Pode-se imaginar o escândalo que envolveu o fato, uma vez que não houve por parte do ouvidor nem do pai da noiva o mínimo empenho em legitimar a união, que só aconteceu dois anos após o nascimento da criança, provavelmente por interferência do bispo de Mariana.

Amigo de Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, freqüentou Vila Rica. Denunciado como participante da Inconfidência Mineira, foi deportado para Angola, onde faleceu em 1793.



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